terça-feira, 30 de dezembro de 2008

The Godfather (1972)

The Godfather (1972), por Francis Ford Coppolla
No Brasil: O Poderoso Chefão

Essas traduções de nome de filme são bem bizarras. Ora! Não deveria ser "O Poderoso Chefão", e sim "O Poderoso Padrinho"!
Vou retomar o que havia dito no meu outro blog: é um filme muitíssimo bem feito. Parece até uma produção da Metro-Goldwyn-Mayer, A MGM!

Nos aspectos técnicos, achei o filme impecável. A iluminação e a edição de imagem são perfeitas, o que confere um toque sofisticado e natural, nada daquelas filmagens amadoras, que dão a impressão que você está num estúdio de gravação. Um exemplo disso? Hamlet. Assisti alguns minutos e tive a sensação de estar assistindo um filme sem editar... E as legendas são brancas! Argh!
Os atores também são fodões demais, com destaque para Marlon Brando e Al Pacino. Só achei que o primeiro ficou com a cara meio dura, que suponho ser devido à maquiagem. Ele foi envelhecido para encarnar o Don Corleone, não?

Enfim, apenas gostaria de tê-lo assistido sozinha, com mais atenção e menos luz na cara (assistir filme de tarde é triste!). Qualquer dia o alugarei de novo e farei uma crítica mais bem-feita.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Notícias de uma guerra particular - (1999)

Notícias de uma guerra particular (1999) - Kátia Lund e João Moreira Salles

Ainda não assisti ao "Tropa de Elite". Não sei se tenho vontade ou ainda coragem de ver o filme do começo ao fim sem parar. Contudo, já conheço boa parte da história, das cenas, e tudo o mais. Não sei se o filme trata do problema que levou à formação das favelas e consequentemente ao tráfico de drogas, mas sei que, querendo ou não, ele trata da desigualdade social no Brasil.
O problema da violência nos morror do Rio de Janeiro existiam há muito tempo, assim como existe violência similar nas favelas de São Paulo, contudo, a mídia só começa a expor tais problemas no momento em que as balas perdidas vêm de encontro às cabeças da classe média.
"Notícias de uma guerra particular" foi um dos primeiros filmes a adentrar a favela para mostrar o que ocorre lá dentro e tentar elucidar o porque do que ocorro por lá. Assim que foi lançado este filme foi deixado um pouco de lado pois tratava de um assunto muito "pesado" e, principalmente, tratava de um assunto que é repetidamente varrido para baixo do tapete: a desigualdade social brasileira.
"Notícias..." aborda a favela de dentro, a polícia de dentro e os moradores da favela de dentro. Os depoimentos são quase absurdos, saídos de scripts de cinema ou ainda de jogos de computador. Os horizontes e a expectativa de vida dessas pessoas que moram nos morros, que entram nos morros e que defendem os morros é quase nula. Ninguém consegue prever uma saída daquele tipo de vida. Como diz o soldado do BOPE, aquela guerra entre a polícia e os bandidos já se tornou uma guerra particular.
Gostei muito dos depoimentos do delegado (o cara barbudo, meio ruivo). Como delegado (naum sei se é mesmo delegado), ele precisa encontrar meios de deixar 2 milhões de pessoas sob a lei e quietos, por outro lado, como ser humano, ele procura meios de fazer com que as coisas melhorem de verdade, sem o apelo às armas e à violência. Contudo, ele também não vê saída: teriam que desativar os fabricantes de armas nos EUA, criar meios de o Estado entrar na favela, entre várias outras coisas que beiram a utopia.
Do outro lado, os garotos que entram para o tráfico, os "soldados" do morro e toda a gente envolvida não consegue encontrar outra alternativa de vida que não seja essa da violência. A falta de educação adequada e o abandono por parte do Estado acabam por não instruir corretamente essas pessoas a respeito do consumo, trabalho, impostos, cidadania, entre várias outras coisas. A única coisa que entra na favela com maior facilidade que a cerveja e a cachaça é a televisão.
O jovem que não tem o que fazer da vida e mora em um lugar quase subhumano, encontra no mundo fora da favela o consumo e o status. Aliás, na sociedade atual somos aquilo que consumimos. Dessa forma, um tênis Nike ou "Rebóque" são os horizontes desses garotos que vêem nos produtos caros uma forma de ascenção social. Sendo assim, as formas mais fáceis de se conseguir os produtos é através do tráfico e do roubo. Esses garotos, ao entrar para o tráfico, recebem em dinheiro, por semana, mais do que seus pais recebem por um mês de trabalho, ainda sem qualquer reconhecimento social. Pelo filme, vemos que a maior parte das falas desses garotos é a favor do crime como forma de ajudar nas despesas da casa, comprar as roupas e eletrodomésticos para as mães e pais que jamais poderão comprar tais produtos.
Voltando ao filme em si, não gostei muito da edição em relação às músicas colocadas durante o filme e alguns cortes das entrevistas. Quase todas as vezes a música atrapalhava o entendimento do que os entrevistados estavam falando, além de me distanciar um pouco do problema em questão, pois a trilha sonora fazia parecer que aquilo era um filme de ficção. Quanto às entrevistas, prefiro assistir ao Coutinho pois seus filmes têm poucos cortes durante as entrevistas. Contudo, o João Mereira Salles mandou muito bem ao deixar uma de suas falas perguntando algo ao ex-chefe de quadrilha. Além disso, existe uma versão deste filme com um DVD extra com todas as entrevistas completas. Isso mostra o cuidado dos diretores em fazer com que este filme se torne um aviso e um produto para a reflexão sobre a violência e a desigualdade social.
Agora, a tal da Indústria Cultural sempre engloba tudo, inclusive aquilo que vai contra a própria indústria cultural. "Notícias...", após ficar na geladeira da mídia por algum tempo, voltou com toda a força em "Cidade de Deus", "Carandirú", "Tropa de Elite". Inclusive (aqui prefiro não fazer juízo de valores), alguns dos diretores do "Notícias..." estão presentes nesses outros filmes, assim como alguns "personagens" e depoimentos do filme do João Moreira Salles serviram aos outros filmes.
Não é atoa que, ao assistir "Notícias..." encontrei nas falas dos entrevistados quase todas as cenas do "Tropa de Elite". Contudo, foi a ficção que ganhou os prêmios e as palmas do mundo todo. E, atualmente, filmes violentos sobre favela estão com tudo.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

As férias do Sr. Hulot (1953)

Les Vacances de Monsieur Hulot (1953) - Jacques Tati
No Brasil: As férias do Sr. Hulot

"O capitalismo é feito de muitas palavras". Essa é uma das pouquissimas falas do filme, dita pelo personagem jovem que fica lendo o dia inteiro e se mostra bem chato.
"As férias do Sr. Hulot" é um desses filmes em que muita coisa acontece sem que se precise explicar o porque de tudo. Acima de tudo é um filme que remete aos antigos filmes silenciosos uma vez que podemos notar uma total redução de diálogos ao longo do filme. Logo de início, na cena do trem, em que os passageiros ficam perdidos, ouvimos a voz que sai dos auto falantes na estação. Porém não é possível decifrar nem mesmo uma palavra do que está sendo dito.
Vemos um punhado de gente se aglomerando para pegar o trem até que surge o simples carro do Sr. Hulot, um calhambeuqe caindo aos pedaços e muito barulhento que é constantemente ultrapassado pelos enormes carros que também vão na mesma direção deixando muita poeira para trás.
Este filme é uma crítica, porém bastante sutil e até despretenciosa, mostrando as férias da burguesia francesa. Existem diversos personagens caricatos como o veterano comandante de guerra, o gordo que recebe inúmeras ligações de vários lugares do planeta, o dono do hotel, enfim. Contudo "As férias..." não se propõe a apontar o dedo, pelo contrário, por meio de Hulot este filme apresenta a convivência dessas pessoas em seu meio de lazer.
Acredito que o personagem Mr. Bean tenha se inspirado muito em Jacques Tati pois ambos retiram os diálogos das ações fazendo com que as imagens e os efeitos sonoros falem por si mesmos. Este tipo de humor é um tanto difícil de fazer e de ser aceito. Há algum tempo me lembro de ver Leslie Nielsen (o velhinho do cabelo branco que faz comédias) dizendo que seu programa de tv que daria origem a "Corra que a polícia vem aí" foi um grande fracasso justamente porque o programa não cabia no veículo de comunicação. Ele disse que as pessoas não assistem a TV, mas a usam como um passatempo similar ao rádio. Uma vez que os programas de Leslie se resolviam na imagem, muita gente não entendia as piadas pois elas sequer estavam olhando para a TV. É por esse motivo que os seriados norte-americanos têm tanta conversa e "sacadinhas", pois são nessas sacadinhas que as pessoas devem rir. Não importa que se esteja olhando para a TV para entender uma piada completa incluindo Ross, Rachel e Joey.
Voltando à relação Hulot e Mr. Bean, ambos são descritos pelos prórprios criadores como personages dotados de uma certo espírito de criança. Muitas das graças de Mr. Bean vêm de alguma armação que ele faz com alguém, além do personagem ser bastante vingativo. Hulot parece ser bastante criança a ponto de soltar a corda do barco e depois chutar a bunda do homem que supostamente está espiando as mulheres. Em todos esses casos, Hulot corre para se esconder assim como faria uma criança.
É importante ressaltar que em "Hulot" temos um recorte quase "aleatório" de umas férias da burguesia francesa. Tanto o é que o filme não apresenta reviravoltas, não desenvolve nenhum personagem, muito menos um final que amarra toda a narrativa. Trata-se de um retrato que, me lembro muito bem, se parece muito com a cena do livro (sim, para mim é uma grande foto-cena) "Onde está o Wally", na página da praia. Se percorrermos as duas páginas prestando atenção aos personagens podemos conhecer muito sobre eles. Os personagens de "Hulot" também são assim, ainda que caricatos e bem planos, possuem suas histórias particulares.
Não fiquei gargalhando do começo ao fim, acho que não gargalhei em momento algum, mas este filme é muito engraçado e também é um ótimo filme para se assitir com gente que não tem o costume de assitir filmes ou ainda para as pessoas que odeiam "filmes cabeça". (Ainda que este seja um "cabeção")

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Pingue-pongue da mongólia (2005)

Lü cao di (2005) - Ning Hao
No Brasil: Pingue-pongue da mongólia

Gosto muito desses filmes parados orientais. Parece que eles dão um certo tempo para pensar.
Mas não poderia ser diferente disso um filme sobre um grupo de mongóis que vive no campo, em cabanas e que criam ovelhas para o consumo próprio. Os cenários do praire são sempre vastos, pontuados por poucos closes, só para lembrar que alí existe uma câmera de cinema. As falas são as essenciais, sem firulas e as pessoas se comportam da maneira menos floreada o possível, talvez um traço dos povos rurais.
Este filme mostra a tempo todo o contato do povo rural com as novidades da globalização, vindas da cidade por meio de um humilde mercador e sua caminhonete, que cobra em cabeças de gado. Logo no início vemos dois personagens desajeitadamente esperando para tirar uma fotografia em frente ao palácio da Praça da Paz Celestial, em Pequim. Contudo, logo se percebe que eles estão diante de uma montagem com a foto da praça. E já de cara se percebe que eles não pertencem à esse mundo para o qual estão posando. Suas vidas se dão no campo, cuidando de suas próprias vidas.
Enquato vai buscar água, o garoto encontra uma bola de pingue-pongue flutuando rio. O fato de ser branca, lisa e flutuar o chama a atenção. Ninguém sabe responder o que seria aquilo. Para a avó, trata-se de uma pérola brilhante. Os meninos, então passam a noite esperando que a pérola brilhe. Sem sucesso, vão até o altar rezar para os espíritos, pois quem sabe a pérola assim brilhe. Mais um vez sem sucesso eles voltam para casa e levam uma surra da mãe.
Eles já sabiam que apanhariam, mas isso não impede que tentem fazer aquilo que desejam, essa é a sua cultura. Em uma cena a mãe se pergunta "como podem educar os professores da cidade se eles não batem nas crianças?". Percebe-se aqui que as mães não têm a mínima maldade quando batem em seus filhos após estes a deixarem preocupadas com seus recorrentes sumiços.
Gostei também de ver a briga dos garotos mais novos com os mais velhos. Os mais velhos implicam com os mais novos e a discussão é resolvida em um tipo de duelo, que mais tarde se percebe que para eles se trata de um tipo de esporte. Após defenderem seus pontos de vista e sua honra por meio das palavras os dois garotos lutam um tipo de judô cujo objetivo não é ferir o adversário, mas levá-lo ao chão. Isso parece ser tão corrente que todas as pessoas ao redor sequer fazem algo com relação ao "duelo", eles nem são contra, nem a favor, simplesmente ficam onde estão, alguns ainda nem olhando para os dois garotos.
Uma cena me emocionou, o pai do garoto de boné leva seu filho para pedir desculpas por ter trocado a bola de pingue-pongue por um aro. Essa cena mostra com muita força a educação e os costumes desse povo. Os pais querem que os garotos façam as pazes pois "os irmãos do praire repartem tudo". Parece absurdo mas o pai do garoto simplesmente pega a bolinha de pingue-pongue e a corta no meio, para que cada garoto tenha uma metade. A bolinha cortada significa muito mais que a bolinha inteira, que até o momento não serviu para nada a não ser unir os garotos, já que só mais pro final do filme eles descobrem que aquilo é um bola de pingue-pongue "da nação". A bolinha cortada volta a aparecer quando o garoto descobre que a família do seu amigo foi embora. Ele simplesmente monta em seu cavalo e vai até onde era a casa do amigo. Sem encontrar mais nada no local, vemos que ele segura a metade com força: possivelmente ele nunca mais verá seu amigo e isso parece o deixar triste.
Contudo, não só o tempo como a noção de tristeza é muito diferente para esse povo. A partida do amigo não é nenhum melodrama pois não passa de um evento da vida. O fato de a irmã entrar para o grupo de dança também não cria nenhuma reviravolta no cosmos e os pais, ao se despedirem dos filhos que vão para a cidade apenas os beija, abençoa e acenam, até que sumam de vista. Depois voltam para suas vidas. Assim como voltam para suas vidas o irmão e a irmã.
Ainda que o motivo do filme seja a bola de pingue-pongue, o filme é sobre muito mais coisas do que a simples aventura da bolinha ou do menino com a bolinha. Por esse motivo, repito, é necessário que este filme seja lento, contamplativo e com poucas falas.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Um estranho no ninho (1975)

One Flew Over the Cuckoo's Nest (1975) - Milos Forman
No Brasil: Um Estranho no Ninho

Sempre tive a curiosidade de assistir "Um estranho no ninho", porém a capa tanto do DVD quanto do VHS me faziam pensar que se tratava de um filme sobre a Segunda Guerra Mundial ou ainda um cara que entra literlamente de gaiato num navio. Achava até que seria uma comédia, no caso do navio. Também, o Jack Nicholson com aquela touca na frente de uma cerca com arames farpados....
Mas a questão é que não se trata de comédia, muita coisa aqui não é para rir.
Em primeiro lugar vemos um filme sobre um trapaceiro que aparentemente se faz de louco para sair da prisão e ir desfrutar de seus ultimos 60 ou 70 dias de retenção em manicomio confortável, do qual ele pode sair a qualquer momento. Contudo percebemos que Mac, que parecia ser o vilão da história, não é tão baixo quanto o sistema do manicômio que mais parece um sistema carcerário pois alí a liberdade é quase inexistente. Além das grades, cercas, filas e horários rigorosos os integrantes do local são privados de sua própria individualidade. Aos poucos vamos percebendo que aquele lugar não resolve problemas mentais mas os deixa ainda pior com os recalques e submissões que são obrigados a obedecer para não irem parar na cama de choques. Todos alí sabem das punições, nós só percebemos no momento em que Mac é levado para a outra ala do hosítal que mais parece um local surreal cheio de ex seres humanos que levam aqueles choques frequentemente.
Aos poucos Mac se torna um herói aos olhos dos internos pois é ele quem traz um pouco de mudança nas rotinas, entre elas a de obedecer as ordens da enfermeira e seus capatazes. O ponto máximo dessa elevação de Mac é mostrado no momento em que o gago fala normalmente com a enfermeira, logo após ser encontrado com a garota na cama. Os problemas do garoto foram, de certa forma, resolvidas naquele quarto ao passar a noite com a garota de Mac. Contudo, percebemos que o maior medo do garoto é sua mãe, e a enfermeira sabe muito bem disso ao chantagear o garoto dizendo que contará tudo o que fizera à mãe do gago. Nesse momento mostra-se a força do sistema que rege aquele manicomio pois o garoto volta a gaguejar com muito mais intensidade e, coberto de culpa, corta o próprio pescoço com um caco de vidro. *Desde que vi de relance uma garrafa estilhaçada no chão fiquei me perguntando se aquele enquadramento seria de graça =) *
Todo o controle que Mac tinha até o momento também vai pelos ares. Ele parte para a agressão física, quase matando a enfermeira. Por fim, nem mesmo a agressão física consegue derrubar o sistema.
As cenas finais são muito bonitas. O "chefe", um amigo de Mac que se apresentava como surdo e mudo, ao ver que seu amigo está se tornando um vegetal devido possivelmente aos choques e drogas que vem sendo forçado a tomar, decide torna-lo herói definitivo. Após acabar com o sofrimento de Mac, o "chefe" usa toda sua força para arrancar a torneira de mármore da sala de banhos e a arremessa contra a janela, exatamente como Mac apostou que faria para poder escapar daquela prisão. Um dos internos acorda e grita extasiado que Mac conseguira fugir e vemos o "chefe" correndo em direção ao infinito, até sumir de vista.
Qualquer dia desses farei um post sobre o "Chock Corridor" do Fuller (Paixões que Alucinam, no Brasil), mas não dá pra deixar de notar o mesmo sistema "carcerário" dos manicômios retratados. Inclusive são lugares que tratam os internos como detentos de uma prisão e que a cura e a melhoria de vida dessas pessoas não está nem em segundo plano. "Bicho de Sete Cabeças" deve ter pego inspiração nesses dois filmes, com certeza.
A questão é o seguinte, em se tratando de um lugar para aliviar o sofrimento de pessoas "anormais", nesse filme devo ter visto uma ou outra demonstração de afeto como um abraço ou coisa parecida. Quando ocorria era entre o mesmo grupo, internos com internos. Nunca médicos com médicos ou, o mais importante, médicos com os internos. O fato da enfermeira negar por duas vezes que eles assistam a liga mostra que, ainda que pareça que eles querem ajudar a cura das pessoas, eles não sabem muito bem como fazer isso pois se escondem atrás dos uniformes e leis da medicina e da sociedade. Somente com a aparição de Mac que o "chefe" se mostra capacitado de falar e ouvir, o gordinho do cigarro se revolta contra sua situação, o gago fala normalmente e os outros são, pela primeira vez, pescadores.
Sugiro que, caso alguém alé do meu computador esteja lendo isso, assita "Chock Corridor" (1963) e o "Bicho de Sete Cabeças"(2001).

sábado, 13 de setembro de 2008

São Paulo S.A. (1965)

São Paulo, Sociedade Anônima (1965) - Luís Sérgio Person

Já busquei esse filme com os poemas "Ode ao Burguês" do Mario de Andrade e "A flor e a náusea" do Drummond na cabeça. Esses dias atrás ouvi falar que as críticas do início do século perduram até hoje do Brasil.
São Paulo é um grande problema irresolvível a curto prazo. E a classe média é um grande auto problema. A cidade e sua população são ao mesmo tempo espelho e reflexo uns dos outros.
O personagem principal de "São Paulo S.A." é um cara que, como a maioria dos jovens de classe média, não possui sua própria particularidade e parece não ter forças para ir atrás dela. Vemos ao longo do filme o personagem sempre querendo mais e mais, em uma cidade que oferece milhões de possibilidades as quais são praticamente inatingíveis como um todo e ao mesmo tempo.
Ele vive com Ana, mulher apagada que não possui um mínimo de laço com sua própria mãe já velha. Ana trabalha na cidade grande para poder ser alguém na vida. Afinal, hoje em dia somos aquilo que consumimos. Porém ela está esgotada pela situação em que se encontra. Carlos não sabe como agir nessa situação e escolhe a saída mais fácil: arranjar outra mulher para poder desfrutar de uma vida de prazeres.
As amantas pelas quais Carlos passa durante o filme também procuram uma vida que jamais encontrarão na cidade, mas jamais conseguirão sair da cidade pois não conseguem imaginar uma vida mais simples.
O patrão de Carlos é um homem que apenas aparenta ser bem de vida. Sua vida foi construída sobre sonegações, mentiras, passadas de perna e por aí afora. A cidade de São Paulo é um símbolo da sociedade opressora da fábrica, do consumo em massa e da perda da identidade das pessoas frente a grande massa que se forma em São Paulo.
Por fim, no momento em que Carlos consegue escapar da cidade ele não sabe o que fazer. Mais uma vez ele toma o caminho mais fácil, que o faz voltar inconscientemente para a cidade e para as recém chegadas fábricas de automóveis.
São Paulo S.A. é um filme sobre os labirintos em que se encerram as pessoas no Brasil da década de 50 e que até agora não conseguiram encontrar sua saída que não seja os meios mais fácies e muitas vezes ilegais consigo mesmas.

Easy Rider (1969)

Easy Rider (1969) - Dennis Hopper
No brasil: Sem Destino

Foi o filme que me deu a idéia de um blog sobre os filmes que assisto.
Não entendo perfeitamente da década de 60/70 dos Estados Unidos para entender completamente o que representou esse filme. Sei que foi uma produção de orçamento simples mas que rendeu milhões.
O que faz dois caras venderem um punhado de cocaína para poderem viajar pelo país? Em Easy Rider é bem claro: eles querem ir a todas as festas, fumar toda maconha que puderem e ter liberdade pelo resto da vida. A liberdade é o grande ponto deste filme.
Jack Nicholson conseguiu dois prêmios de ator coadjuvante neste primeiro filme de sua carreira ao interpretar George Hanson. É neste personagem que estão as melhores frases do filme. As frases sobre a liberdade e o medo que a população do local têm dessa palavra tão forte.
Talvez o único momento em que os dois motoqueiros tenham ficado perto da tal liberdade é quando chegam com o etranho caroneiro na comunidade hippie. Mesmo que aquele lugar possua algumas regras de convivência, eles não estão ligados a mais nada que não seja a união entre eles mesmos e a terra que tentam plantar. Alí as pessoas vivem de favores uns dos outros e do que eles mesmos fazem. E, o mais importante, qualquer um pode sair quando achar necessário.
O final de Easy Rider ficou na minha cabeça por um longo tempo. Os dois motoqueiros são mortos à beira da estrada pelo simples motivo de serem uma ameaça à tão boa sociedade sulista escravocrata e xenófoba. Como diz Hanson, a liberdade que representam os motoqueiros não é a liberdade pregada pelos fazendeiros do lugar, esta uma grande mentira com nome de liberdade. Ser livre é ser o outro. E o outro sempre foi um grande probema na história da humanidade.
Contudo não vou pintar de santos os dois motoqueiros. Eles tiveram muitas chances de chegar mais perto da vida que desejavam, mas sempre buscavam mais e mais. Uma das últimas falas de Wyatt é "estragamos tudo". Não é para menos.
Eles buscaram abraçar algo grande demais. As cenas da alucinação de ácido deixam bem claro que eles também possuem vazios que não são preenchidos com a fuga e as drogas. Mais uma vez, a vila dos hippies é o lugar mais próximo daquilo que sonhavam desde o início. O puteiro, a feira e a viagem no cemitério mostram o quanto se tornaram decadentes no momento em que foram abalados pela morte de Hanson. Ou ainda, o quanto deveriam ter desfrutado mais da vila dos Hippies. Durante a cena do puteiro, Wyatt lê em uma parede a inscrição de que o modo como um homem morre conta sobre sua vida. Vemos algo à beira da estrada pegando fogo. É a premonição da morte dos motoqueiros.

A história dos outros (ou o motivo deste blog)

A história dos outros sempre me foi muito interessante. Aprende-se muito apenas ouvindo o que têm a dizer. Ou mostrar.
Este é um blog com a finalidade de um comentário sobre os filmes que assisto. Deixando desde já bem claro que não pretendo ser crítico de cinema em um blog, uma vez que este espaço se reserva a comentários do último filme que assistir, muitas vezes feito logo após ter visto o filme.