terça-feira, 23 de setembro de 2008

As férias do Sr. Hulot (1953)

Les Vacances de Monsieur Hulot (1953) - Jacques Tati
No Brasil: As férias do Sr. Hulot

"O capitalismo é feito de muitas palavras". Essa é uma das pouquissimas falas do filme, dita pelo personagem jovem que fica lendo o dia inteiro e se mostra bem chato.
"As férias do Sr. Hulot" é um desses filmes em que muita coisa acontece sem que se precise explicar o porque de tudo. Acima de tudo é um filme que remete aos antigos filmes silenciosos uma vez que podemos notar uma total redução de diálogos ao longo do filme. Logo de início, na cena do trem, em que os passageiros ficam perdidos, ouvimos a voz que sai dos auto falantes na estação. Porém não é possível decifrar nem mesmo uma palavra do que está sendo dito.
Vemos um punhado de gente se aglomerando para pegar o trem até que surge o simples carro do Sr. Hulot, um calhambeuqe caindo aos pedaços e muito barulhento que é constantemente ultrapassado pelos enormes carros que também vão na mesma direção deixando muita poeira para trás.
Este filme é uma crítica, porém bastante sutil e até despretenciosa, mostrando as férias da burguesia francesa. Existem diversos personagens caricatos como o veterano comandante de guerra, o gordo que recebe inúmeras ligações de vários lugares do planeta, o dono do hotel, enfim. Contudo "As férias..." não se propõe a apontar o dedo, pelo contrário, por meio de Hulot este filme apresenta a convivência dessas pessoas em seu meio de lazer.
Acredito que o personagem Mr. Bean tenha se inspirado muito em Jacques Tati pois ambos retiram os diálogos das ações fazendo com que as imagens e os efeitos sonoros falem por si mesmos. Este tipo de humor é um tanto difícil de fazer e de ser aceito. Há algum tempo me lembro de ver Leslie Nielsen (o velhinho do cabelo branco que faz comédias) dizendo que seu programa de tv que daria origem a "Corra que a polícia vem aí" foi um grande fracasso justamente porque o programa não cabia no veículo de comunicação. Ele disse que as pessoas não assistem a TV, mas a usam como um passatempo similar ao rádio. Uma vez que os programas de Leslie se resolviam na imagem, muita gente não entendia as piadas pois elas sequer estavam olhando para a TV. É por esse motivo que os seriados norte-americanos têm tanta conversa e "sacadinhas", pois são nessas sacadinhas que as pessoas devem rir. Não importa que se esteja olhando para a TV para entender uma piada completa incluindo Ross, Rachel e Joey.
Voltando à relação Hulot e Mr. Bean, ambos são descritos pelos prórprios criadores como personages dotados de uma certo espírito de criança. Muitas das graças de Mr. Bean vêm de alguma armação que ele faz com alguém, além do personagem ser bastante vingativo. Hulot parece ser bastante criança a ponto de soltar a corda do barco e depois chutar a bunda do homem que supostamente está espiando as mulheres. Em todos esses casos, Hulot corre para se esconder assim como faria uma criança.
É importante ressaltar que em "Hulot" temos um recorte quase "aleatório" de umas férias da burguesia francesa. Tanto o é que o filme não apresenta reviravoltas, não desenvolve nenhum personagem, muito menos um final que amarra toda a narrativa. Trata-se de um retrato que, me lembro muito bem, se parece muito com a cena do livro (sim, para mim é uma grande foto-cena) "Onde está o Wally", na página da praia. Se percorrermos as duas páginas prestando atenção aos personagens podemos conhecer muito sobre eles. Os personagens de "Hulot" também são assim, ainda que caricatos e bem planos, possuem suas histórias particulares.
Não fiquei gargalhando do começo ao fim, acho que não gargalhei em momento algum, mas este filme é muito engraçado e também é um ótimo filme para se assitir com gente que não tem o costume de assitir filmes ou ainda para as pessoas que odeiam "filmes cabeça". (Ainda que este seja um "cabeção")

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