terça-feira, 16 de setembro de 2008

Pingue-pongue da mongólia (2005)

Lü cao di (2005) - Ning Hao
No Brasil: Pingue-pongue da mongólia

Gosto muito desses filmes parados orientais. Parece que eles dão um certo tempo para pensar.
Mas não poderia ser diferente disso um filme sobre um grupo de mongóis que vive no campo, em cabanas e que criam ovelhas para o consumo próprio. Os cenários do praire são sempre vastos, pontuados por poucos closes, só para lembrar que alí existe uma câmera de cinema. As falas são as essenciais, sem firulas e as pessoas se comportam da maneira menos floreada o possível, talvez um traço dos povos rurais.
Este filme mostra a tempo todo o contato do povo rural com as novidades da globalização, vindas da cidade por meio de um humilde mercador e sua caminhonete, que cobra em cabeças de gado. Logo no início vemos dois personagens desajeitadamente esperando para tirar uma fotografia em frente ao palácio da Praça da Paz Celestial, em Pequim. Contudo, logo se percebe que eles estão diante de uma montagem com a foto da praça. E já de cara se percebe que eles não pertencem à esse mundo para o qual estão posando. Suas vidas se dão no campo, cuidando de suas próprias vidas.
Enquato vai buscar água, o garoto encontra uma bola de pingue-pongue flutuando rio. O fato de ser branca, lisa e flutuar o chama a atenção. Ninguém sabe responder o que seria aquilo. Para a avó, trata-se de uma pérola brilhante. Os meninos, então passam a noite esperando que a pérola brilhe. Sem sucesso, vão até o altar rezar para os espíritos, pois quem sabe a pérola assim brilhe. Mais um vez sem sucesso eles voltam para casa e levam uma surra da mãe.
Eles já sabiam que apanhariam, mas isso não impede que tentem fazer aquilo que desejam, essa é a sua cultura. Em uma cena a mãe se pergunta "como podem educar os professores da cidade se eles não batem nas crianças?". Percebe-se aqui que as mães não têm a mínima maldade quando batem em seus filhos após estes a deixarem preocupadas com seus recorrentes sumiços.
Gostei também de ver a briga dos garotos mais novos com os mais velhos. Os mais velhos implicam com os mais novos e a discussão é resolvida em um tipo de duelo, que mais tarde se percebe que para eles se trata de um tipo de esporte. Após defenderem seus pontos de vista e sua honra por meio das palavras os dois garotos lutam um tipo de judô cujo objetivo não é ferir o adversário, mas levá-lo ao chão. Isso parece ser tão corrente que todas as pessoas ao redor sequer fazem algo com relação ao "duelo", eles nem são contra, nem a favor, simplesmente ficam onde estão, alguns ainda nem olhando para os dois garotos.
Uma cena me emocionou, o pai do garoto de boné leva seu filho para pedir desculpas por ter trocado a bola de pingue-pongue por um aro. Essa cena mostra com muita força a educação e os costumes desse povo. Os pais querem que os garotos façam as pazes pois "os irmãos do praire repartem tudo". Parece absurdo mas o pai do garoto simplesmente pega a bolinha de pingue-pongue e a corta no meio, para que cada garoto tenha uma metade. A bolinha cortada significa muito mais que a bolinha inteira, que até o momento não serviu para nada a não ser unir os garotos, já que só mais pro final do filme eles descobrem que aquilo é um bola de pingue-pongue "da nação". A bolinha cortada volta a aparecer quando o garoto descobre que a família do seu amigo foi embora. Ele simplesmente monta em seu cavalo e vai até onde era a casa do amigo. Sem encontrar mais nada no local, vemos que ele segura a metade com força: possivelmente ele nunca mais verá seu amigo e isso parece o deixar triste.
Contudo, não só o tempo como a noção de tristeza é muito diferente para esse povo. A partida do amigo não é nenhum melodrama pois não passa de um evento da vida. O fato de a irmã entrar para o grupo de dança também não cria nenhuma reviravolta no cosmos e os pais, ao se despedirem dos filhos que vão para a cidade apenas os beija, abençoa e acenam, até que sumam de vista. Depois voltam para suas vidas. Assim como voltam para suas vidas o irmão e a irmã.
Ainda que o motivo do filme seja a bola de pingue-pongue, o filme é sobre muito mais coisas do que a simples aventura da bolinha ou do menino com a bolinha. Por esse motivo, repito, é necessário que este filme seja lento, contamplativo e com poucas falas.

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