segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Um estranho no ninho (1975)

One Flew Over the Cuckoo's Nest (1975) - Milos Forman
No Brasil: Um Estranho no Ninho

Sempre tive a curiosidade de assistir "Um estranho no ninho", porém a capa tanto do DVD quanto do VHS me faziam pensar que se tratava de um filme sobre a Segunda Guerra Mundial ou ainda um cara que entra literlamente de gaiato num navio. Achava até que seria uma comédia, no caso do navio. Também, o Jack Nicholson com aquela touca na frente de uma cerca com arames farpados....
Mas a questão é que não se trata de comédia, muita coisa aqui não é para rir.
Em primeiro lugar vemos um filme sobre um trapaceiro que aparentemente se faz de louco para sair da prisão e ir desfrutar de seus ultimos 60 ou 70 dias de retenção em manicomio confortável, do qual ele pode sair a qualquer momento. Contudo percebemos que Mac, que parecia ser o vilão da história, não é tão baixo quanto o sistema do manicômio que mais parece um sistema carcerário pois alí a liberdade é quase inexistente. Além das grades, cercas, filas e horários rigorosos os integrantes do local são privados de sua própria individualidade. Aos poucos vamos percebendo que aquele lugar não resolve problemas mentais mas os deixa ainda pior com os recalques e submissões que são obrigados a obedecer para não irem parar na cama de choques. Todos alí sabem das punições, nós só percebemos no momento em que Mac é levado para a outra ala do hosítal que mais parece um local surreal cheio de ex seres humanos que levam aqueles choques frequentemente.
Aos poucos Mac se torna um herói aos olhos dos internos pois é ele quem traz um pouco de mudança nas rotinas, entre elas a de obedecer as ordens da enfermeira e seus capatazes. O ponto máximo dessa elevação de Mac é mostrado no momento em que o gago fala normalmente com a enfermeira, logo após ser encontrado com a garota na cama. Os problemas do garoto foram, de certa forma, resolvidas naquele quarto ao passar a noite com a garota de Mac. Contudo, percebemos que o maior medo do garoto é sua mãe, e a enfermeira sabe muito bem disso ao chantagear o garoto dizendo que contará tudo o que fizera à mãe do gago. Nesse momento mostra-se a força do sistema que rege aquele manicomio pois o garoto volta a gaguejar com muito mais intensidade e, coberto de culpa, corta o próprio pescoço com um caco de vidro. *Desde que vi de relance uma garrafa estilhaçada no chão fiquei me perguntando se aquele enquadramento seria de graça =) *
Todo o controle que Mac tinha até o momento também vai pelos ares. Ele parte para a agressão física, quase matando a enfermeira. Por fim, nem mesmo a agressão física consegue derrubar o sistema.
As cenas finais são muito bonitas. O "chefe", um amigo de Mac que se apresentava como surdo e mudo, ao ver que seu amigo está se tornando um vegetal devido possivelmente aos choques e drogas que vem sendo forçado a tomar, decide torna-lo herói definitivo. Após acabar com o sofrimento de Mac, o "chefe" usa toda sua força para arrancar a torneira de mármore da sala de banhos e a arremessa contra a janela, exatamente como Mac apostou que faria para poder escapar daquela prisão. Um dos internos acorda e grita extasiado que Mac conseguira fugir e vemos o "chefe" correndo em direção ao infinito, até sumir de vista.
Qualquer dia desses farei um post sobre o "Chock Corridor" do Fuller (Paixões que Alucinam, no Brasil), mas não dá pra deixar de notar o mesmo sistema "carcerário" dos manicômios retratados. Inclusive são lugares que tratam os internos como detentos de uma prisão e que a cura e a melhoria de vida dessas pessoas não está nem em segundo plano. "Bicho de Sete Cabeças" deve ter pego inspiração nesses dois filmes, com certeza.
A questão é o seguinte, em se tratando de um lugar para aliviar o sofrimento de pessoas "anormais", nesse filme devo ter visto uma ou outra demonstração de afeto como um abraço ou coisa parecida. Quando ocorria era entre o mesmo grupo, internos com internos. Nunca médicos com médicos ou, o mais importante, médicos com os internos. O fato da enfermeira negar por duas vezes que eles assistam a liga mostra que, ainda que pareça que eles querem ajudar a cura das pessoas, eles não sabem muito bem como fazer isso pois se escondem atrás dos uniformes e leis da medicina e da sociedade. Somente com a aparição de Mac que o "chefe" se mostra capacitado de falar e ouvir, o gordinho do cigarro se revolta contra sua situação, o gago fala normalmente e os outros são, pela primeira vez, pescadores.
Sugiro que, caso alguém alé do meu computador esteja lendo isso, assita "Chock Corridor" (1963) e o "Bicho de Sete Cabeças"(2001).

Um comentário:

Laís disse...

Taí um dos filmes que mais gosto! Grande Jack Nicholson! Foi uma atuação maravilhosa. A gente nunca sabe se o Jack é o personagem ou se o personagem é o Jack afinal.

Gostei da sua crítica. De fato o Estranho no Ninho se inspirou no Bicho de Sete Cabeças, que é outro filme excelente.
A parte que eu mais gosto é quando o "Chefe" levanta aquele bebedouro pesado em homenagem ao McMurphy e foge para sempre daquele lugar deprimente. É massa também aquela passagem do chiclete: "Hum... Tutti-Fruti".

Um abraço pra você, Mura-chan. =)