sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Notícias de uma guerra particular - (1999)

Notícias de uma guerra particular (1999) - Kátia Lund e João Moreira Salles

Ainda não assisti ao "Tropa de Elite". Não sei se tenho vontade ou ainda coragem de ver o filme do começo ao fim sem parar. Contudo, já conheço boa parte da história, das cenas, e tudo o mais. Não sei se o filme trata do problema que levou à formação das favelas e consequentemente ao tráfico de drogas, mas sei que, querendo ou não, ele trata da desigualdade social no Brasil.
O problema da violência nos morror do Rio de Janeiro existiam há muito tempo, assim como existe violência similar nas favelas de São Paulo, contudo, a mídia só começa a expor tais problemas no momento em que as balas perdidas vêm de encontro às cabeças da classe média.
"Notícias de uma guerra particular" foi um dos primeiros filmes a adentrar a favela para mostrar o que ocorre lá dentro e tentar elucidar o porque do que ocorro por lá. Assim que foi lançado este filme foi deixado um pouco de lado pois tratava de um assunto muito "pesado" e, principalmente, tratava de um assunto que é repetidamente varrido para baixo do tapete: a desigualdade social brasileira.
"Notícias..." aborda a favela de dentro, a polícia de dentro e os moradores da favela de dentro. Os depoimentos são quase absurdos, saídos de scripts de cinema ou ainda de jogos de computador. Os horizontes e a expectativa de vida dessas pessoas que moram nos morros, que entram nos morros e que defendem os morros é quase nula. Ninguém consegue prever uma saída daquele tipo de vida. Como diz o soldado do BOPE, aquela guerra entre a polícia e os bandidos já se tornou uma guerra particular.
Gostei muito dos depoimentos do delegado (o cara barbudo, meio ruivo). Como delegado (naum sei se é mesmo delegado), ele precisa encontrar meios de deixar 2 milhões de pessoas sob a lei e quietos, por outro lado, como ser humano, ele procura meios de fazer com que as coisas melhorem de verdade, sem o apelo às armas e à violência. Contudo, ele também não vê saída: teriam que desativar os fabricantes de armas nos EUA, criar meios de o Estado entrar na favela, entre várias outras coisas que beiram a utopia.
Do outro lado, os garotos que entram para o tráfico, os "soldados" do morro e toda a gente envolvida não consegue encontrar outra alternativa de vida que não seja essa da violência. A falta de educação adequada e o abandono por parte do Estado acabam por não instruir corretamente essas pessoas a respeito do consumo, trabalho, impostos, cidadania, entre várias outras coisas. A única coisa que entra na favela com maior facilidade que a cerveja e a cachaça é a televisão.
O jovem que não tem o que fazer da vida e mora em um lugar quase subhumano, encontra no mundo fora da favela o consumo e o status. Aliás, na sociedade atual somos aquilo que consumimos. Dessa forma, um tênis Nike ou "Rebóque" são os horizontes desses garotos que vêem nos produtos caros uma forma de ascenção social. Sendo assim, as formas mais fáceis de se conseguir os produtos é através do tráfico e do roubo. Esses garotos, ao entrar para o tráfico, recebem em dinheiro, por semana, mais do que seus pais recebem por um mês de trabalho, ainda sem qualquer reconhecimento social. Pelo filme, vemos que a maior parte das falas desses garotos é a favor do crime como forma de ajudar nas despesas da casa, comprar as roupas e eletrodomésticos para as mães e pais que jamais poderão comprar tais produtos.
Voltando ao filme em si, não gostei muito da edição em relação às músicas colocadas durante o filme e alguns cortes das entrevistas. Quase todas as vezes a música atrapalhava o entendimento do que os entrevistados estavam falando, além de me distanciar um pouco do problema em questão, pois a trilha sonora fazia parecer que aquilo era um filme de ficção. Quanto às entrevistas, prefiro assistir ao Coutinho pois seus filmes têm poucos cortes durante as entrevistas. Contudo, o João Mereira Salles mandou muito bem ao deixar uma de suas falas perguntando algo ao ex-chefe de quadrilha. Além disso, existe uma versão deste filme com um DVD extra com todas as entrevistas completas. Isso mostra o cuidado dos diretores em fazer com que este filme se torne um aviso e um produto para a reflexão sobre a violência e a desigualdade social.
Agora, a tal da Indústria Cultural sempre engloba tudo, inclusive aquilo que vai contra a própria indústria cultural. "Notícias...", após ficar na geladeira da mídia por algum tempo, voltou com toda a força em "Cidade de Deus", "Carandirú", "Tropa de Elite". Inclusive (aqui prefiro não fazer juízo de valores), alguns dos diretores do "Notícias..." estão presentes nesses outros filmes, assim como alguns "personagens" e depoimentos do filme do João Moreira Salles serviram aos outros filmes.
Não é atoa que, ao assistir "Notícias..." encontrei nas falas dos entrevistados quase todas as cenas do "Tropa de Elite". Contudo, foi a ficção que ganhou os prêmios e as palmas do mundo todo. E, atualmente, filmes violentos sobre favela estão com tudo.

3 comentários:

Rodz! disse...

Gostei muito do comentário sobre o filme Mura.
O documentário é realmente muito bome, eu já tinha assistido. Acho que uma coisa que me marcou muito foi a forma como ele coloca trechos da entrevista formando argumentos bem densos.
O q mais marcou pra mim foi a fala do Cap. Pimentel "o único braço do Estado que sobe o morro é a polícia"
massa esse seu blog cara, depois leio o resto
abração

Laís disse...

Oi, Mura-san!

Não assisti o filme que dá título à postagem, mas assisti um pedaço do Tropa de Elite. Gostei tanto que parei nos primeiros 15 minutos de filmagem.
Não gostei do jeito que é filmado, e tu até me disse que esse era um forte do filme... Forte ou não, aquilo me deixa enjoada pacas. xD

E histórias de morro estão na boca do povo mesmo. Acredito que as pessoas se identificam com essas histórias, sentindo respeito pelas figuras filmadas (policiais ou traficantes). Se não for esse o caso, sentem-se atraídas pelas barbáries retratadas, tipo filme de Segunda Guerra.

Bom, é isso! =)

Laís disse...

Ah! Sugiro que deixe os comentários em pop-ups. ^^'